FALEMOS DE LÍNGUA… DA NOSSA LÍNGUA!…
A propósito da Ia Comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa
A Língua não esgota a linguagem…
A linguagem vai muito além da palavra, se a virmos em toda a sua amplitude.
Podemos até afirmar que a fronteira da nossa linguagem é a fronteira do nosso universo!…
Ela segue de perto a linha da nossa razão e a ressonância das nossas emoções, na relação com o mundo e com os outros, suportada na palavra, no gesto, no olhar, na atitude…
Mas, no âmbito destes suportes da linguagem, é a palavra que vai mais longe e nos permite pensar em voz alta!
Assim é a Língua que, pela Palavra, nos diferencia e faz de nós humanos, os únicos seres falantes.
E, de entre estes, só nós temos uma Língua que, a cantar, chama FADO, ao destino!
Sente a dizer SAUDADE!
Sente a cantar “Heróis do mar”…, a cantar “Parabéns a você!”… e a cantar “Coimbra tem mais encanto”!
Sente a dizer Abril…, a dizer Porto, Lisboa, Vieira do Minho, Aguiar da Beira, Ermal e cada uma das nossas terras e aldeias…., a dizer Natal… e a dizer mãe!
Sente a dizer Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe, Cabo verde, Timor Leste!…
E sente a dizer bem haja!…
É a Língua Portuguesa que, com o seu “OBRIGADO”, vai mais fundo, na forma de mostrar gratidão…
Muito mais… que o cavalheiresco “thank you”… e os (des)comprometidos “gracias”… ou “merci!”…
E tem a palavra mais versátil… de todas, a mais redonda e popular …ela e as suas derivadas servem para tudo e mais alguma coisa …”isto é qualquer coisa!” … que coisa é essa?! …foi o “coiso” que me disse!…a “coisa está a ficar preta”…aqui há coisa! … não te ponhas com coisas…. coisas do arco-da- velha!… coisa-me aquilo ali!… chega-me essa coisa … antes que “me dê uma coisa”… “coisas e loisas”… ou coisa que o valha!… coisa pública… não te ponhas com coisas… já estou a ver a coisa mal parada!… uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!…coisas da nossa Língua e… “prontos”!…
Já para não falar do seu virtuosismo, da riqueza dos seus inesgotáveis recursos e vocabulário, das suas expressões idiomáticas, das suas figuras de estilo, dos seus provérbios e adágios…, sotaquesvariantes e especificidades de cada povo
que a fala, nesse seu “contentamento descontente!…”
Um língua que sabe a mar, a sal, a glória, a lágrimas … e a terra…
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!”…
“Por te cruzarmos, quantas mães choraram
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
Uma língua que “junta à mesma mesa” “o calão e brejeiro” do pescador… do jornaleiro … do trolha…, na sua simplicidade e crueza e o “erudito e sofisticado” do intelectual… do filósofo…, na sua eloquência e sagacidade.
E esta diversidade em nada a enfraquece, muito pelo contrário, confere-lhe polivalência….
A nossa língua que, forjada no mar e no campo, com raízes profundas na nossa latinidade, cruzou mares e oceanos, atra
vessou tempos e marés e hoje projeta a lusofonia nos cinco continentes, pela boca e pelo punho de centenas de milhões de falantes e escribas.
Uma Língua viva, dinâmica, versátil, aberta ao futuro e ao mundo, que integra com toda naturalidade novas palavras na sua relação com o contemporâneo e o global.
Oh! Como é um privilégio partilhar este “tesouro” com os sublimes “artífices”que tanto contribuiram para o seu enriquecimento e me ocorrem ao sabor da pena…, como Camões, Herculano, Garret, Pessoa (4 em 1), Aquilino, Camilo, Eça, G. Vicente, Bocage, Vieira, Junqueiro, J. de Deus, Nobre, Régio, F. Castro, A. Gil, Quental, Pascoaes, Augustina, Pessanha, Assis, Sá Carneiro, Espanca, Namora, Aleixo, Torga, Eugénio, Drumond, C. Meirelles, Sofia, Natália, Gedeão, Coralina, C. Lispector, Sena, J. Alencar, Nemésio, V. Ferreira, Natália, Amado, Ary, Craveirinha, Saramago, Herberto… e outros…, que continuam a contribuir…, como Alegre, Mia Couto, Hugo Mãe, Pepetela, Luandino, Ba Ka Khosa, Lídia Jorge, Agualusa, Lobo Antunes, J. Melo, M. Carvalho, M. Cláudio, M.Tavares, Zink, Esteves Cardoso, L. Peixoto, I. Rio Novo, J. Tordo … E tantos outros…, que sendo desconhecidos, purismos à parte…, falam e escrevem com mestria e sem erros!…
Fonte da imagem: Super interessante
Fonte: Jornal de Vieira